- Boa tarde. Os biscoitos que ali estão são caseiros?
- São sim.
- Óptimo. Quero levar oitocentos gramas, se faz favor.
- Oitocentos? Não quer levar um quilinho, para fazer a conta certa?
- Porque não? Pese-me lá um quilo de biscoitos.
- Não é preciso pesar. Eu recebo estes biscoitos em saquinhos de um quilo. Vou só buscar um ao armazém.
- Espere lá. Não disse que os biscoitos são caseiros?
- Sim.
- E recebe-os em sacos?
- Correcto.
- Recebe-os de quem?
- Do nosso fornecedor. Espere lá que eu vou buscar o saco.
Regressa com o saco
- Aqui estão os biscoitinhos.
- Isto não é caseiro! Está aqui no saco… Está aqui a morada do sítio onde estes biscoitos são fabricados: é numa zona industrial! Está a brincar comigo? Isto é tudo menos caseiro. Isto é produzido industrialmente.
- Então estava à espera de quê?
- Que os biscoitos fossem feitos em casa da sua avó, ou em sua casa.
- Então deveria ter perguntado isso.
- E eu perguntei. Perguntei se eram caseiros. Você mentiu.
- Não.
- Sim. Você mentiu.
- Aliás, estes biscoitos são duplamente caseiros. Mais caseiros do que isto não há. Em primeiro lugar, estes biscoitos, desde o momento em que nos são entregues, até serem vendidos, nunca saem daqui; estão aqui dentro do nosso estabelecimento todo o dia e toda a noite. Em segundo lugar, o filho do dono da fábrica onde se fazem os biscoitos vive na fábrica, ou seja, a fábrica é também a casa do filho do dono. Portanto, os biscoitos são feitos em casa de alguém. Como vê, não menti.
- Quanto é que isto custa?