Quando entramos num cubículo de casa-de-banho pública, tudo o que ali está é público, é de toda a gente; tudo excepto o papel higiénico: o papel higiénico é de quem entrou, ou seja, é nosso, é privado. Note-se a este propósito que só acontece um furto de papel higiénico de um cubículo de casa-de-banho pública quando o legítimo proprietário do papel higiénico decide subtrair o rolo de papel higiénico na sua totalidade, ou seja, o papel higiénico mais o tubo cilíndrico de cartão que o sustenta. Se se levar apenas o papel, mesmo que se leve todo o papel disponível, e se se deixar o rolo, ninguém apontará esse acto como um furto. Implicitamente, este entendimento é a prova de que a sociedade concorda que, de facto, o papel, e só o papel, pertence a quem entrou no cubículo. Mais: quem entra no cubículo pode até nem ter necessidade de fazer xixi ou cocó, pode decidir entrar apenas porque não gosta de ter as suas coisas (neste caso, o papel higiénico) espalhadas por aí.