A banda portuguesa “Que lã!”, que presumo que seja formada por jovens associados à indústria dos lanifícios, assegura, numa das suas canções, que “A língua inglesa fica sempre bem”. Discordo. A língua inglesa nem sempre fica bem e, no caso da canção em causa, a língua inglesa pode produzir resultados muito aquém dos desejados.

A música de onde é retirada a frase conta a história de alguém que se sente embaraçado por amar outrem. Não sabendo lidar com esse embaraço, o sujeito poético desabafa

Só para dizer que te amo
Nem sempre encontro o melhor termo
(…)
Devia ser como no cinema
A língua inglesa fica sempre bem

Ou seja, de acordo com os “Que lã!”, dizer “Amo-te” é mais fácil em inglês do que em português. Vejamos: em inglês, “Amo-te” diz-se “I love you”, mas ninguém diz exactamente “I love you”. Há quem omita o sujeito e diga “Love you”; há quem apimente mais a expressão e diga “Love ya”. Portanto, realisticamente, “Amo-te” acaba a ser traduzido por “Love ya”. Some-se a isto o contexto em que “Love ya” é dito: um momento íntimo e romântico, onde os apaixonados falam baixinho, sem mexerem muito os lábios. Quando finalmente alguém decide avançar para a declaração amorosa, o embaraço do momento vai forçar a pessoa a baixar os olhos e a emitir “Love ya” em direcção ao chão. Ora, “Love ya”, no seu habitat natural, vai soar a “Lobia” o que está perigosamente próximo da palavra “Loba”. Isto, numa situação romântica, é chato:

  • Gostei muito desta noite. É tão divertido estar contigo.
  • Oh, eu também acho. O tempo passa a voar quando estamos juntos…
  • Sim…
  • Também achas?
  • Sim… Mesmo… Tipo, sabes uma coisa?
  • O quê?
  • Loba!
  • WFT?! Uma loba, aqui no cinema? Onde?

Contrariando os “Que lã!” prefiro usar “Amo-te”. É mais pesado, parece mais institucional, mas cabe à nossa geração retirar os reposteiros de solenidade a “Amo-te” e dar-lhe a frescura do “I love ya, honey!” que, de facto, soa muito bem.