Já foste ao ginásio hoje? Já tomaste o suplemento vitamínico? Já alongaste? Já tomaste a tua proteína? Várias pessoas responderiam positivamente a estas perguntas. A maior parte delas será jovem e saudável; a grande maioria, certamente, mas isto não é um estudo, pode ser ou pode não ser.

Seja como for, faz parte de ser uma pessoa moderna incluir nos seus hábitos semanais uma dose não desprezável de exercício físico. Os mais afortunados têm um Personal Trainer, um nutricionista e ainda vão correr com um amigo ao domingo de manhã. Os menos afortunados vão ao ginásio, onde imitam as pessoas que têm Personal Trainer, e às terças à noite (que é o único dia em que o ringue está disponível) jogam futebol com os amigos. Muito exercício, um estilo de vida activo, um amor ao suor, ao vestuário desportivo, à sapatilha colorida, ao corpo tonificado.

As pessoas com mais seguidores nas redes sociais fazem questão de demonstrar que também elas são fit; que fazem exercício e que até inovam nessa matéria. Essa corrida pela melhoria do desempenho físico, pela prática de novos exercícios cada vez mais desafiantes, vai alterando a definição de “estilo de vida saudável”: o que antes significava “o meu IMC está bem” passou a ser “sou um atleta de alta competição”.

Esta tendência está a garantir o aparecimento de um batalhão de pessoas saudáveis, com motivação para melhorarem a sua forma física e mental, com vontade de se superarem todos os dias e de se aproximarem de um ideal de super-ser-humano, resiliente e capaz de ultrapassar todos os obstáculos. A quem é que isto interessa? Às forças armadas.

As forças armadas têm que gastar dinheiro a manter em forma um conjunto de pessoas, os seus soldados. Esforçam-se para garantir que, a cada momento, os soldados estão de boa saúde, estão motivados, estão bem mental e fisicamente. Hoje em dia, há cada vez mais pessoas a fazer exactamente isso consigo mesmas; e fazem-no a custo zero para as forças armadas.

Ora, na hipótese de acontecer uma grande catástrofe, quem serão os primeiros a ser chamados para vestir o uniforme camuflado? Eu diria que serão estas pessoas em invejável forma física. Por isso, com o intuito de evitar ser chamado, vou manter-me longe do ideal de “boa forma física”; vou manter-me flácido e continuar a usar o elevador.