- Julgando pela maneira como fala… Diga-me: você acredita num deus, não acredita?
- Não, não. Eu não acredito em nenhum deus, mas que ele existe, existe.
- Estou confuso. Então se você diz que existe um deus é porque acredita nele. Não se pode dizer que deus existe e não acreditar nele.
- Olhe, você acredita em pessoas que não conhece?
- Como assim?
- Por exemplo, se eu lhe disser que no 2º andar daquele prédio vive o Alfredo e que o Alfredo afirma que se comer uma cebola crua quando tem dores de costas, as dores desaparecem. Você acredita nisto?
- Isso parece-me um disparate… Quem é esse Alfredo? O que é que ele faz?
- Exacto. Você não conhece o Alfredo mas, fazendo fé no que eu disse, está a tratá-lo como se ele existisse; nem põe isso em causa. Contudo, quando lhe pergunto se você acredita numa coisa que o Alfredo disse, você hesita. E hesita bem: você não conhece o Alfredo, nunca falou com ele, não sabe se ele é uma pessoa ponderada e bem-informada, etc.
- Certo, e então?
- Passa-se o mesmo comigo e com deus.
- Desculpe, não entendo.
- Conheço pessoas, que estimo muito, que me garantem que existe um deus. E eu acredito nelas. Por acreditar nelas, afirmo que existe um deus. Mas eu não conheço deus. Nunca privei com nenhum deus. Ora, como é que eu posso acreditar naquilo que ele diz? Eu não acredito em deus, mas acredito nas pessoas.